Notas soltas sobre Oleanna*
Oleanna leva-nos, astutamente, a escutar a conversa entre um professor, John, e a sua aluna, Carol. Deste modo, o escritório de John, com o seu potencial de armadilha e a sua vulnerabilidade tanto às intrusões realistas como às efémeras é, simultaneamente familiar e desfamiliarizado, o espaço de um tutório filosófico e a “alegada” cena do crime onde o assédio sexual ocorreu/não ocorreu.
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Nem propagandista nem moralista, a resposta de Mamet a uma América profundamente mudada e que aparentemente enlouqueceu é uma peça de noventa minutos reduzida a um espaço, três cenas e duas personagens (três se contarmos com o telefone que interrompe incessantemente). A teatralidade da peça é tão forte e específica que somos imediatamente recordados de que para Mamet “ o poder tem a ver com duas pessoas que querem coisas diferentes”.
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Se Oleanna nos enfurece e nos leva a tomar posição, isso é, sobretudo, porque Mamet revela magistralmente o quão pernicioso, subtil e perverso é o controlo do pensamento, o McCartismo dos anos 90. É demasiado simples rejeitar Oleanna como sendo anti – feminista, ou mesmo misógina. Tanto homens como mulheres compreendemos que a obstinada interpretação da verdade de Carol pouco tem a ver com a abolição do elitismo ou do sexismo. Do que estamos aqui a falar é de fascismo mascarado de humanitarismo. “Nesta peça, “ admite Mamet, “o impensável, o inacreditável torna-se real.” Ao perguntar “como é que chegámos aqui?”, Mamet acerta a direito no alvo.
*tradução de excertos de vários textos
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